Movimento nega que presos façam parte do grupo e diz ser alvo de retaliação por causa de críticas a Bolsonaro.
Uma operação realizada na manhã desta sexta-feira pela Polícia Cívil de São Paulo, pelo Ministério Público Estadual e pela Receita Federal, batizada de “Juno Moneta”, prendeu os empresários Alessander Mônaco Ferreira e Carlos Augusto de Moraes Afonso, conhecido como Luciano Ayan. Segundo o MP, eles “mantêm estreitas ligações” com o Movimento Brasil Livre (MBL), cujo sede, na Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo, foi alvo de busca e apreensão. O movimento nega que os presos sejam integrantes do MBL e diz que a operação é uma retaliação por causa da oposição feita ao governo do presidente Jair Bolsonaro.
Alessander e Luciano Ayan são investigados por lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio. De acordo com o Ministério Público, as evidências obtidas indicam que eles “construíram efetiva blindagem patrimonial composta por um número significativo de pessoas jurídicas, tornando o fluxo de recursos extremamente difícil de ser rastreado, inclusive utilizando-se de criptoativos e interpostas pessoas”.
Em nota, o MBL disse que “Alessander Mônaco Ferreira e Carlos Augusto de Moraes Afonso não são integrantes e sequer fazem parte dos quadros do MBL. Ambos nunca foram membros do movimento.”
A ligação entre Ayan e o MBL foi apontada em uma carta enviada no ano passado aos deputados da CPMI das Fakes News por Roger Roberto Dias Andre, o Roger Scar. Editor-chefe do blog Jornalivre, que funcionou entre 2016 e 2018, Scar disse na carta, segundo o site Uol, que Ayan atuava como intermediário do movimento. O empresário, criador do Jornalivre, receberia instruções do MBL sobre políticos que deveriam ser atacados, com o uso inclusive de notícias falsas, e determinaria a produção de textos com esse conteúdo.
O Ministério Público diz que há uma confusão jurídica empresarial entre MBL e Movimento Renovação Liberal (MRL). Afirma que o movimento recebe doações de forma suspeita. Cita pagamentos através da plataforma Google Pagamentos – que desconta 30% do valor, ao invés de doações diretas na conta. Fala ainda na constituição e utilização de diversas empresas em incontáveis outras irregularidades, especialmente fiscais.
“A família Ferreira dos Santos, criadora do MBL, adquiriu/criou duas dezenas de empresas — que hoje se encontram todas inoperantes e, somente em relação ao Fisco Federal, devem tributos, já inscritos em dívida ativa da União, cujos montantes atingem cerca de R$ 400 milhões.”
Renan Santos, líder do movimento, afirma que o MBL é uma marca fantasia e que o MRL é a associação jurídica utilizada pelo movimento.
— O único CNPJ é do MRL.
Sobre as dívidas fiscais, Renan diz que se tratam de débitos atribuídos a empresas que perteceram a seu pai.
— Meu pai foi sócio de empresas que deviam (imposto), como qualquer empresa deve. Passaram como se fosse um grande grupo que desviou R$ 400 milhões, como se o MBL tivesse desviado R$ 400 milhões. O que uma coisa tem a ver com a outra?
Renan classifica a operação como “armação maluca”.
— Essa é uma denúncia que roda nas redes bolsonaristas, nos perfis falsos, há muito tempo. O promotor pegou isso e transformou numa investigação sem pé nem cabeça. Não temos nada a temer, não fazemos nada de ilegal. Vamos para cima de todo mundo que está fazendo essas acusações, inclusive do promotor — afirma.
O Ministério Público diz que Alessander, um dos presos, realizou movimentação financeira extraordinária e incompatível. Além disso, “tinha sociedade em duas empresas de fachada, realizou doações altamente suspeitas através da plataforma Google ao MBL, viajou mais de 50 vezes para Brasília entre julho de 2016 a agosto de 2018, todas para visitar o Ministério da Educação com objetivos não especificados”.
“Apesar de tudo, solicitou emprego e foi contratado pelo governo do estado de SP para trabalhar na Comissão de Avaliação de Documentos e Acesso (Cada) da Imprensa Oficial do Estado – e justamente um cargo que tem função de gerenciar tarefas de eliminação de documentos públicos, de informações relativas ao recolhimento de documentos de guarda permanente, produzidos pela administração pública”, afirma o MP.
Renan Santos diz que Alessander é um fã do movimento, que já fez doações, mas não possui relação formal com o grupo.
Contra o segundo preso, Carlos Afonso, que se apresenta como Luciano Ayan, o MP diz que pesam suspeitas de ameaça contra aqueles que questionam as finanças do MBL; disseminação de fake news; criação de, pelo menos, quatro empresas de fachada; e indícios de movimentação financeira incompatível perante o fisco federal.
Consultor de TI, Carlos Afonso é um dissidente do bolsonarismo e desde 2018 tem se dedicado a criticar a rede de ataques virtuais dos apoiadores de Jair Bolsonaro.
A iniciativa o colocou na mira de bolsonaristas. Numa palestra para o congresso virtual do grupo conservador Movimento Brasil Conservador (MBC), no mês passado, Eduardo Bolsonaro atribuiu a Carlos Afonso a articulação política contra redes conservadoras. Ele disse que, se pudesse, convocaria Afonso para depor na CPMI das Fake News, e que em breve revelaria “alguns fatos” sobre o desafeto.
— Na CPMI das Fake News, a gente busca dar o exemplo, não se dobrando ao politicamente correto. Mas nosso trabalho é difícil, porque ali dentro nós somos muito minoria. Então é muito difícil que a gente consiga aprovar um requerimento. Se eu pudesse, eu aprovaria um requerimento convocando o Luciano Ayan, que, para mim, é quem está por trás de toda essa estratégia da CPMI das Fake News. Acredito que em breve eu consiga trazer alguns fatos com relação a isso — disse Eduardo durante o congresso.
Afonso é convidado com frequência para participar de debates virtuais sobre disseminação de notícias falsas. Ele também é autor do blog Ceticismo Político.
A operação contra Carlos Afonso foi comemorada por bolsonaristas no Twitter como o deputado federal Filipe Barros (PSL-PR) e Edson Salomão, líder do Movimento Conservador. Assim como Eduardo Bolsonaro, eles apontam Afonso como autor de dossiês que teriam embasado as informações expostas pela deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) na CPMI das Fake News.
O nome da operação “Juno Moneta” faz referência ao antigo templo romano onde as moedas romanas eram cunhadas. Cerca de 35 policiais civis do Departamento de Operações Policiais Estratégicas (DOPE) e 16 viaturas participam da operação.
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